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Foto: Douglas Monteiro/ Vila Nova Futebol Clube |
21 de
novembro de 2015, essa fora a data em que Alvino chorou pela última
vez. Mas, diferentemente das inúmeras outras vezes, o choro fora de
alegria, de felicidade, de esperança. Fora o choro entalado na
garganta por quase uma década inteira, sedento por ganhar o mundo e
ser ouvido por todos.
Alvino é
um senhor de 75 anos, nascido no interior da Bahia e que se mudara
para Goiânia na década de 60. De origem muito humilde, viera com a
esposa para a recém-criada capital de Goiás com a esperança de
melhorar de vida. É mestre de obras, ajudara a construir muitos
prédios que hoje sustentam a capital goianiense. É, de fato, um
construtor da cidade.
Seu
destino, como migrante nordestino, não poderia ser outro: fora morar
na Vila mais Famosa de Goiânia, no bairro da Vila Nova, reduto dos
milhares de nordestinos que migraram para as novas terras a fim de
edificar a capital. Logo que chegou, fora arrebatado por um
sentimento que pairava sobre os moradores do bairro, o sentimento de
amor pelo clube de futebol criado pelos vizinhos, com a tutela do
padre que cuidava da igreja do setor. O fascínio, o amor e a
dedicação com que os moradores, nordestinos como Alvino, tratavam a
agremiação recém-criada fez surgir um sentimento profundo que,
alguns anos mais tarde, Alvino passaria aos filhos com tanto zelo e
cuidado.
Os anos
foram passando e o envolvimento do baiano de coração goiano com a
equipe, que se tornara profissional, foi aumentando cada vez mais.
Alvino, sempre que saía do canteiro de obras, dava um jeitinho de
passar no estádio do clube para ver os atletas treinando. Quando se
atrasava para chegar em casa, a esposa Cely nem se alterava, sabia
que ele estava no Vila Nova. Quem via o amor com que Alvino se
remetia ao time do coração, nem imaginaria o quão difícil era a
jornada do mestre-de-obras com o Vila. Alvino passou anos e mais anos
amargando derrotas e humilhações, foram quase duas décadas de
declínio até que o time mais apaixonado da cidade começasse a
época de ouro, a época de títulos.
Alvino
ficou mal acostumado, viu um Vila Nova imbatível e destruidor nas
décadas de 70 e 80. Viu os rivais se curvarem diante da equipe
colorada, viu um tetracampeonato inédito no futebol goiano. Viu
lendas do futebol como São Guilherme, Timoura e Onésio Brasileiro
Alvarenga. Pois é, Alvino ficara mal acostumado... Os anos 90
adentraram e com ele a supremacia foi chegando ao fim. Alvino
entendia que os tempos eram outros e que o futebol não feito como na
época em que se enamorou pelo Vila Nova. Entendia tudo e isso e
permanecia na esperança de que tempos áureos como o que vivera
voltariam para contemplar também os filhos e quem sabe os netos.
Alvino
esperou, ano após ano, vexame após vexame, com a mesma esperança
dos tempos antigos. Ele tinha paciência, mas não mais se emocionava
com facilidade como antes. Dizia que depois de 10 anos na lama, só
um feito extraordinário o faria chorar novamente. E ele aconteceu,
mesmo sob a desconfiança de Alvino, ele aconteceu.
21 de
novembro de 2015, essa fora a data em que Alvino chorou mais uma vez.
Depois de um fatídico ano com dois rebaixamentos nos campeonatos que
disputara, o Vila Nova ressurgia como um tigre feroz e soberano,
Alvino ressurgia, também, feroz e soberano. A desconfiança não
mais fazia parte do seu ser, Alvino se entregou totalmente, como no
início da história de amor, às lágrimas pelo clube que ajudou a
construir.
21 de
novembro de 2015, essa fora a data em que o Vila Nova foi novamente
campeão brasileiro da série C, essa fora a data em que mais de 40
mil apaixonados, como Alvino, choraram no Estádio Serra Dourada.
Essa fora a data do último sopro de esperança de Alvino, esperança
de tempos áureos como o que vivera ao lado do colorado e a certeza
de que esse amor que sente pelo Vila Nova vai se perpetuar por
gerações e gerações de sua família, tão puro e verdadeiro como
o que sentiu quando chegou na Vila mais Famosa de Goiânia.